Radio Comunitaria Playamar Stereo

José, quien conocimos en una frutería en San Onofre fue el que nos recomendó ir a la Biblioteca María Mulata -de la cual ya escribimos. También nos invitó a ir (después  de pasar por la biblioteca) a la radio comunitaria de la localidad: Playamar Stereo, para participar de un programa.  Él lo que decía era que le interesaba nuestra visión sobre ese espacio para promover lo que en la región se hacía.  Allá nos fuimos.

Al llegar, preguntamos por José y resulta ser que él no estaba (o no trabaja) ahí. Sin embargo, la gente nos recibió como si nos conociera, con cariño y amabilidad.

La radio es un espacio pequeño, un estudio, una pequeña oficina, baño y cocina. Era la hora del programa Radio Revista.  Antes de entrar nos preguntaron un poco sobre lo que veníamos haciendo y ellos compartieron un poco sobre su trabajo.

En ese intercambio, vimos un pequeño documental de uno de los proyectos de la radio: “reporteritos de paz”.  Donde algunas niñas y niños de la comunidad se forman como reporteros.  Compartimos AQUÍ este trabajo.

De la entrevista podemos decir que fue medio que una conversa entre amigas, espontánea. Hablamos del Festival, al que vamos y estamos ayudando a organizar en Costa Rica, del viaje, de la investigación,  de Venezuela… SAM_0442

Agradecemos al equipo de esta radio, a José que nunca más lo volvimos a ver, por el encuentro en el camino.

Para quem quiser ser parte dessa viagem…

Nosso cotidiano nesse projeto de investigação educativa tem sido de pedalar e buscar comida e abrigo na estrada, visitar projetos e escrever sobre eles. Quando estamos bem alojados, produzimos algo para vender, consertamos as bicicletas e demais coisas da sobrevivencia cotidiana.

Algumas tarefas por internet que exigem um pouco mais de calma na frente do computador, para nos se torna um pouco mais dificil.

Então pensamos que seria interessante deixar aberta a possibilidade de outra pessoa nos ajudar nesse projeto. Como um convite tambem. Se voce curte esse projeto de pesquisa, tambem viaja em processos educativos e curte e maneja bem blogs e ferramentas basicas de internet, e queira se somar nessa viagem a partir de onde estiver, sinta-se convidad@.

Caso tenha interesse, é só fazer contato!

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¿Qué hemos estado haciendo para financiar este viaje?

En principio, ha sido ahorrar. Tanto antes como durante el viaje. Tratamos de gastar solo en lo necesario (¿Qué es lo necesario?, es tema constante de conversa) y también buscar formas alternativas (sin costo o con un menor costo económico) de conseguir eso que necesitamos. Por ejemplo, en el caso de la comida, lo que es verdura, en Brasil íbamos al mayorista de verduras e íbamos recogiendo las verduras que aún estaban buenas pero no lo suficiente para ser vendida. En el caso de la ropa o algún implemento que necesitemos, preguntamos a nuestras amigas y amigos si no tienen (en desuso) eso que necesitamos (así conseguimos la cámara que tenemos, en su momento celulares y hasta una pequeña computadora que amigos no estaban usando).

Antes de viajar teníamos ingresos fijos (Dé como funcionario público de una escuela en Belo Horizonte, Cori como becada del Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico de Brasil). Ahora no. ¿Cómo nos mantenemos? Vamos inventando. Para producir dinero, tomamos trabajos por corto tiempo (como el tiempo en el que estuvimos colaborando en Cecosesola) o producimos algunos productos que vendemos en pro del viaje (Brigadeiro, bolsas, imanes con dibujos y fotos del viaje). Y también y sobre todo por la solidaridad de las personas que desean apoyar nuestro camino (con contactos, hospedaje, comida, dinero…) y con las cuáles tratamos de generar algún tipo de intercambio.

Brigadeiro

A ustedes que nos apoyan, ¡gracias!

Sobre a maleabilidade da vida

É libertador pensar que podemos ser criativos com a vida. Além de pensarmos que podemos fazer desenhos, pinturas ou músicas interessantes, também podemos jogar com a maleabilidade que a vida tem.

Pensar em outras maneiras de viver, que podem talvez nos levar para além do trabalhar-estudar-comprar-pagar.

Viajando pela Venezuela, chegamos a uma linda praia, conhecida como Chuao. Não existem estradas para chegar  a Chuao, então é preciso pagar uma lancha na cidade mais próxima.

Chuao é um vilarejo pequeno e tranquilo, com seus pequenos quiosques, restaurantes, pousadas e suas manifestações culturais do povoado.

Ali existe .uma casinha, na beira da praia, dividindo espaços com quiosques e restaurantes, que tem uma maneira interessante de existir. A casa não é necessariamente um restaurante ou pousada, mesmo que venda uma cervejinha, peixe e arepas.

Lógico que o dinheiro que entra através das vendas são importantes, mas o que sustenta principalmente essa casinha e o homem que nela vive, são as relações de amizade que vem crinando a anos. As pessoas que se fazem amigas desse homem logo passam a cozinhar junto a ele, usar seu banheiro e a compartilhar comida, historias, informações, reflexões,… e afetos.

E as amizades sempre, sempre voltam a visita-lo.

Ao final deixam uma graninha, comida e presentes de contribuição espontaneamente, numa dinamica parecida com a de uma casa coletiva ou nomade.

Nesses tempos difíceis de Venezuela, esse homem continua firme. Conta sempre com a visita de amigos e suas contribuições, numa maneira bem poética de viver, onde se aposta pesado nas amizades.

Não quero exagerar no romantismo, mas é inspirador ver conhecer pessoas que ousam criar outras maneiras de viver e existir nesse planeta.

Algumas fotos de CECOSESOLA

Finalmente conseguimos consertar nossa camera e finalmente poderemos compartilhar fotos e videos de projetos que tivermos contato no caminho. Pra começar, fotos de alguns processos e estruturas da rede de cooperativas CECOSESOLA. O post ALGUNS PARALELOS… em uma carta a amigos e amigas… contém um relato de como, no meu entendimento,  funciona a organização da rede.

A foto abaixo mostra uma das reuniões de gestão da feira do centro da cidade. Acontecem em toda segunda feira. Nessas reuniões discutem tudo que envolve o funcionamento da rede e também o que aconteceu na sexta, sábado e domingo, que sao os dias em que acontecem as feiras. Discutem como tem se dado as relações entre os cooperados, questões finenceiras e maneiras de desenvolver e apoiar a comunidade. Essas reuniões são tidas como fundamentais no processo educativo e de organização da rede, e seu funcionamento se dá sem pautas definidas, sem mesa ou grupo coordenador e tambem sem dedinhos levantados para poder  falar.
Nesse mesmo dia, outras feiras e grupos também estão fazendo suas reuniões de avaliação e gestão, e essas discussões são depois levadas para reuniões onde cooperados de outras feiras e cooperativas estarão presentes..

Reuniao de gestao da feira do centro.

A proxima foto foi feita numa reuniçao que acontece as quartas feiras no centro de saúde da cooperativa. Nessa estão presentes pessoas de outras feiras e cooperativas. É uma reunião que permite visualizar mais amplamente o funcionamento da rede e permite tomar decisões mais estratégicas a nivel de rede. Nessa reunião, por exemplo, as feiras apresentam seus balanços financeiros, compartilham problemas internos.Reuniao de gestao, no hospital cooperativo. Nessa reuniao se encontram varias ferias e grupos, para se articularem enquanto rede.

A foto abaixo foi tirada na escola cooperativa que fica na feira do centro da cidade. Nessa semana, os e as cooperativistas organizaram atividades de férias para as crianças da comunidade.

A escola cooperativa não é uma escola como conhecemos. Não tem turmas e aulas. Trata-se de um espaço onde utilizado onde se organizam atividades, como esse encontro de férias, palestras, oficinas, receber e hospedar visitantes e discutir com orgãos e pessoas externas a cooperativa.

Clicando aqui é possivel acessar outras fotos.

Raúl Zibechi – Uma sugestão de Leitura

Muitas vezes me faço o questionamento de se as teorias e criticas de movimentos sociais dialogam bem com as realidades de periferias e favelas. Faço esse questionamento baseado nas vivencias que tive morando e me relacionando com ocupações urbanas de luta por moradia no Brasil.

Me parecia que as criticas e idéias não conseguiam acessar muito bem a periferia, para pensar sobre ela. Assim como a periferia também não conseguia desenvolver idéias suficientemente acadêmicas, como as que muitos movimentos sociais lidam.

Isso foi assunto entre eu e alguns amigos e amigas durante um bom tempo.

… bueno…

… a pouco tempo passou por aqui, na Cecosesola, um militante pensador dos movimentos sociais da America Latina, cuja leitura de seus textos tem me ajudado a pensar essa problemática. Um uruguaio chamado Raúl Zibechi.

Suas pesquisas passam principalmente por movimentos sociais autônomos e autonomistas.

Eu seu livro “Descolonizar o Pensamento Critico Y Las Rebeldias” diz que a matriz dos movimentos europeus simplesmente aplicadas a movimentos latinoamericanos seria como aplicar a matriz dos “de cima” aos movimentos dos “de baixo”.

“Por eso, (Fanon) advirtió que no debemos imitar a Europa. Sus ideas y análisis son una puerta de ingreso a un tema que considero central: la organizacion y la militância para cambiar el mundo desde la zona del “no ser”, donde hoy viven los millones de latinomericanos, que necesitan construir um mundo nuevo. En tanto la teoría critica fue labrada en la zona “del ser” no puede ser transplantada mecánicamente a la zona “del no ser”, porque seria repetir el hecho colonial en nobre de la revolución. Hace falta otra cosa, recorrer otros caminos.(…)”

Diz que a genealogia dos movimentos latinoamericanos é outra:

“Em América Latina estamos ante otra genealogia: las rebeliones Tupac Amaru y Tupac Katari, las revoluciones de Zapata y Pancho Villa, la revolución de Haiti, los quilombos y los cimarronaje, son las precursoras de queines hoy lucha por la libertad.”

Seguindo sua analise, é possível fazer paralelos de como as lutas de genealogias diferentes encaram determinados elementos, como o papel da família, a participação das mulheres e etc.

“Ese protagonismo feminino em los levantamentos populares está conectado com su enorme protagonismo en la vida cotidiana ( vida material de Braudel). Las izquierdas tienen dificuldades para ver esse protagonismo diário; y mas aún para considerar que esa actividad es politica.”

O cara faz uma leitura histórica das movimentações, ajudando a entender os caminhos que trilhamos, desde a comuna de Paris, até os dias de hoje. Dessa forma, contextualiza as lutas dos movimentos sociais do mundo e da America latina.

Os movimentos das décadas de 60, 70 e 80, segundo minha compreensão de sua leitura, fecharam seus ciclos, culminando em governos de esquerda ou progressistas. E que a década de 90 tendo como principal referencia o movimento zapatista, inaugura uma nova onda de movimentações.

“Si los movimientos antisistemicos no construyen poderes proprios, seguiremos recorriendo la triste estela que conocemos desde el comienzo de los procesos de liberación nacional: fuerzas revolucionarias que toman el Estado y reproducen la dominación, porque el Estado es una relación colonial-capitalista que no puede ser desmontada desde su interior. El proceso de construir poder propio es el camino para descolonizar las relaciones sociales.”

Bom, fica a dica de leitura ai…

– Dé

ALGUNS PARALELOS… em uma carta a amigos e amigas…

Por deh…

Amig@s querid@s…
… estamos na Venezuela. Nossa proposta nessa viagem seria pesquisar projetos e processos educativos interessantes na America Latina, além de desenvolver outras pesquisas de nosso interesse. E de compartilhar publicando textos e materiais em nosso blog.

Aqui vai uma tentativa disso. Nesse caso, tentando fazer alguns paralelos com as movimentações autonomistas de BH, das quais eu tive muita proximidade. Acho que esses paralelos podem servir para nos inspirar.

Nesses primeiros meses de viagem, estamos em Barquisimeto, cidade do estado de Lara. Aqui estamos vivenciando a experiência desenvolvida a mais de 50 anos pela Cecosesola (Central Cooperativa de Servicos Sociais de Lara).
Não sei se tenho condição de dizer o que é a Cecosesola. Vou arriscar dizer que é uma rede de cooperativas de diversos setores, como funerária, produção agrícola, feiras de distribuição de produtos e alimentos, que tem como objetivo o desenvolvimento educativo e comunitário.

A rede se articula de maneira descentralizada e não hierárquica, ainda que não exista um padrão definido de atuação. E através da rede, desenvolvem também serviços médicos (inclusive com um hospital construído pela cooperativa), de poupança e credito, um clube cooperativo, com piscina, quadras, dentre outras coisas. Atuam sem nenhum cargo fixo e nem hierarquia, oferecendo serviços com preços muito abaixo aos preços do mercado.

Estamos cooperando na feira do centro da cidade. Existem varias outras feiras também. A do centro é um grande terreno conseguido através da ocupação de um terreno abandonado pelos cooperados e conta com galpões para a feira, um galpão para eventos e reuniões e uma casa onde funciona a escola cooperativa.

As feiras acontecem nas sextas, sábados e domingos. Nesses três dias, todos os cooperados da feira e também de outros setores, se organizam e dedicam-se aos trabalhos de organização e venda de legumes e alimentos. Nos outros dias da semana, dedicam-se aos processos organizativos e de gestão
Na segunda pela manha, fazem o que tem que fazer, como limpar e organizar o espaço da feira e a tarde acontece uma reunião geral, com todos da feira do centro, para discutir como foi o trabalho no final de semana, as relações de trabalho e o que mais surgir. Nesse momento os grupos de cooperados apresentam também seus dados e balanços, como gastos e custos da feira, relações pessoais e etc. Essa é uma reunião principalmente a nível local.

Nas tercas e quartas acontecem reuniões de gestão e compra, onde se encontram membros de todas as feiras da Cecosesola, espalhadas pela cidade. Nela apresentam seus dados e gastos e compras, compartilham questões, pedem apoio e fazem planejamento extrategicos.

Na quinta feira preparam a feira para o final de semana. Paralelamente a isso, os grupos de trabalho atuam, como grupos de limpeza, cozinha, vigilância. Também acontecem atividades como festivais, oficinas, cursos, e etc.

Nas reuniões @s cooperad@s chamam constantemente a atenção em relação a responsabilidades e disciplina em relação aos acordos coletivo. Preocupam-se muito com o caráter educativo de todas atividades desenvolvidas.

Durante a feira existe um sistema de comunicação através de auto-falantes. Com esse sistema, mantem um contato frequente com os frequentadores da feira, tentando fazer todo o processo transparente e aberto. Pessoas que não fazem parte da cooperativa podem participar das reuniões também.

Então, alguns paralelos…

… que talvez valha a pena fazer, no sentido de nos inspirar…

Antes de sair do país, vivi alguns anos na ocupação Guarani Kaiowa. Viviamos ali dilemas de participação dos moradores aos processos de organizacao e assemblearios da comunidade. As assembleias não podiam render muito tempo, porque as pessoas tinham que descansar para trabalhar no outro dia.

Ou as distancias entre pessoas das movimentações sociais e autonomistas, onde cada um trabalha num canto da cidade, e tem dificuldade em se encontrarem e terem proximidade.

Questões como essa são respondidas no caso da Cecosesola.

As pessoas permanecem e atuam ativamente nas reuniões e processos organizativos. Inclusive porque dependem das reuniões o funcionamento das feiras, a redução de perdas e etc. As pessoas não tem que sair delas para trabalharem e ganharem algum dinheiro ou sustento. Na verdade as reuniões fazem parte do trabalho cotidiano. Elas são contadas como dia trabalhado.

As reuniões reúnem as vezes mais de 200 pessoas, e não tem pautas pre definidas, nem tem mesas organizativas, nem inscrições para fala e não fazem votações.

Como tod@s trabalham junt@s, em contato permanente boa parte do dia, tem tempo para se articularem, desenvolverem projetos e serem criativos. Atualmente, Cecosesola começa a desenvolver um programa de radio, além de estarem realizando trocas de experiências com outras cooperativas, festivais de comida e etc.

Enfim, o contato coletivo cotidiano permite varias iniciativas.

No contexto atual…

… da Venezuela, que é um contexto de crise, inclusive com escasses de alimentos, a cooperativa consegue gerar um ambiente um pouco mais seguro para as pessoas próximas. Bom, isso é o que sinto.
Cecosesola mantem uma relação muito próxima com cooperativas de produtores rurais, trazendo comida para as feiras em Barquisimeto. Através de produções cooperativas, geraram uma estrutura que minimiza um pouco as dificuldades da crise. No caso da escassez de alimentos, as cooperativas de produtores rurais estão desenvolvendo esforços para reprodução de sementes e fortalecimento da agricultura.

Por outro lado, tem surgido propostas de pesquisa e busca de alternativas aos alimentos que estão escassos.

A proximidade entre companheir@s da cooperativa e comunidade gera um ambiente de apoio muito importante e interessante. Esse tipo de relação é um assunto que circula muito entre autonomistas, e pessoas com as quais sou próximo em Belo Horizonte. Por isso, penso que a experiência daqui traz materiais muito interessantes para pensar.

Sempre pensei que num contexto de crise social a população se °viraria°, no sentido de dar conta da situação. Que plantaria e daria conta, a partir de baixo, da situação de crise. Aqui na Venezuela, por suas características locais, históricas e politicas, as coisas não caminharam bem assim. A população nao reage bem a escassez de alimentos, e se mantem muito dependente do governo.

Por isso, sob o ponto de vista autonomista, a importância de se ter conhecimento em plantio, medicina natural e agricultura, além de desenvolver projetos, experiencias e praticas coletivas nesse sentido.

Bom…
… fica ai uma tentantiva de compartilhamento… tomara que sirva de material de inspiração e de intercâmbio…

Sobre salvar um Homem

Por Dé

Tenho tido proximidade com o caso de um amigo que me causou muita tristeza. Meu vizinho, uma figura da qual tenho muita admiração pela maneira de viver, pela energia, pela história de vida e pela influência positiva que tem em vários setores da comunidade.

Figura que num momento de crise financeira, decidi abrir um bar em sua casa.

Desde o primeiro dia em que o conheci, até poucos dias, nunca havia o visto consumindo bebidas alcoólicas. Na juventude foi alcoólatra, fez uso e foi viciado também em crack, e teve muita dificuldade para abandonar esses vícios.

No cotidiano de seu bar, muito movimentado por amigos, caiu descontroladamente no consumo de álcool e outras drogas.

O que me motiva a escreve sobre isso são os dilemas que me surgem e a relação que tenho estabelecido com a complexa situação de meu amigo.

Meu principal dilema passa pela sensação de que deveria fazer algo a favor dele, e questionar a cultura do alcoolismo e do abuso de drogas. Mesmo tendo a sensação de ser um problema grande demais para que poucas pessoas consigam fazer algo significativo.

Em poucos dias o homem perdeu peso, se envolveu em problemas e pôs a própria vida e a de outras pessoas em risco.

Em momentos de sobriedade, conversamos e demos conselhos, como o de fechar o bar e sair por algum tempo da comunidade, até conseguir se fortalecer um pouco.

Oferecemos comida, porque já não comia a dias.

Mas o que mais fazer, quando seu bar vive lotado de outros usuários usuários, trazendo mais drogas o tempo todo e ainda roubando, quando possível? O que é possível fazer quando se está envolto numa cultura que da suporte a essa situação?

Tenho pensado que o que podemos fazer é abrir mão da ideia de que vamos salvar alguem, e continuar resistindo com nossas pequenas ações. Não deixar que a situação nos tire de nossos caminhos e de nossa centralidade. Não cair na armadilha de falar desse “atraente assunto” o tempo inteiro. Parece que gostamos falar de tretas permitindo que isso sugue e mude nossa energia o tempo inteiro.

Continuar fazendo o que fazemos todo o tempo. Fortalecendo as assembleias, publicando os jornais, limpando nossas ruas, fazendo atividades de vez em quando, brincadeiras com as crianças, mantendo nossos lotes limpos e organizados, cuidando e castrando nossos gatinhos, fazendo nossa horta, mantendo nossos corpos saudáveis e os treinos de capoeira, estudando nossos assuntos preferidos, convivendo bem com a vizinhança, etc… e uma coisa de cada vez e sem perder o senso crítico.

Essa parece ser nossa parte numa possível mudança.

Não adianta pensar que salvaremos esse ou aquele homem, ou que transformaremos toda uma cultura da noite para o dia. Mesmo tão envolvido sentimentalmente, é importante evitar sermos afogados pelos problemas ao nosso redor.

Façamos o que nossas pernas aguentam, e estejamos atentos para evitar contribuir com a continuidade das questões que queremos superar.

 

Sobre Salvar o Mundo – Um assunto de mesa de um bar

Por Dé

Certa noite me vejo sentado na mesa de um bar com amigos e amigas que a muito não encontrava. E nas conversas emergiu um assunto que muito me atravessa.

Um amigo falava sobre sua vida, suas ideias e questões que o tem assolado. Assuntos desde cooperativas de trabalho, política pessoal, local, nacional, internacional e intergaláctica; relações e desejos de engajamento pessoal, preocupações com outras pessoas, questão de moradia, saúde e etc.

Acredito que todos nós somos, de certa forma, atravessados por assuntos parecidos.

Mas o que me chamou a atenção foi que ele me pareceu sentir-se muito responsável por todas as soluções. Carregava as palavras com o peso dessa responsabilidade. Parecia cansado e desgastado com todo o assunto.

Eu me sentia cada vez mais pesado sobre aquela cadeira de bar.

Também me sinto responsabilizado assim. Querendo abraçar o mundo com os braços, aceitando cada questão que atravessa meu caminho como sendo minha. Assim, desprotegendo as construções que dificilmente tenho tecido, permitindo que sejam prejudicadas, por falta de auto controle. Abrindo mão da minha saúde física e mental, das amizades e dos interesses pessoais.

Mirando enormes questões globais sem resolver as pessoais. Fazendo contatos com distantes lutas, mas com as relações com vizinhos enfraquecidas.

Falo a partir da vivência morando em uma comunidade financeiramente pobre, carente de vários recursos e direitos, convivendo com violências de cunho social, político, violência doméstica, de gênero, promovida pela polícia, por homens, adultos, pelo crime e pelos vícios em drogas.

Essa reflexão é próxima as da capoeira de Angola. A Angola é uma capoeira «miúdinha», jogada muitas vezes encolhidinho, bem próximos ao chão e do outro jogador, no chamado «Jogo de Dentro».

O mestre com que temos treinado, em vários momentos, chama a atenção para a não necessidade de se ter muito espaço, mas para a importância de ocupar bem os espaços que temos. Também fala muito sobre estarmos sempre próximos do outro jogador, e que o ataque na capoeira de angola parte sempre da ocupação do espaço do inimigo e da auto defesa. Que o importante é estar sempre treinando, nos movendo dentro das técnicas e regras do jogo, e desenvolvendo nossa atenção e criatividade.

Nessa mesa de bar, demos exemplos de brigas de casais e vizinhos, da guerra entre policia e do tráfico. Dissemos que, na maioria das vezes, acreditamos que nos manter saudáveis, centrados, nos alimentando bem, com nossas casas organizadas, com boas relações entre amigos e vizinhos, brincando com as crianças de vez em quando, estudando nossas questões e  interesses, dando exemplos diferentes dos da cultura da violência, sem abrir mão da sinceridade, trabalhando para instituir, proteger e fortalecer  os espaços comunitários, legitimando a assembleia da ocupação, estimulando encontros, almoços e lanches comunitários, fazendo os jornalzinhos da comunidade, estando sempre atentos, seria nossa melhor contribuição contra a violência de nossa comunidade.

Uma coisa de cada vez, sem pressa, sempre a partir dos nossos desejos e sem perder o senso crítico..

E que tudo pode também ser pesado, se não conseguirmos manter a calma, a saúde e a alegria.

Não adianta arrancar cabelos, desregulados e aflitos com as questões que nos surgem. O mundo e a TimeLine de FaceBook estão cheios de questões, o tempo inteiro.             Entender isso não é motivo nenhum para desanimar.

Quando tentamos fazer tudo ao mesmo tempo, me parece que acabamos fazendo nada.

Na conversar quis dizer que sentia que meu amigo deveria se cuidar mais e tentar se manter mais tranquilo. Que se quisermos fazer alguma coisa, é primordial nos manter vivos, mas que mesmo assim, nunca conseguiremos abraçar o mundo.

Sobre a autonomia dos projetos

Por Dé

Quando propomos algum projeto e esperamos que as pessoas se apropriem, como entendemos essa apropriação?

Como nos sentimos quando deixamos de tomar a iniciativa e as demais pessoas simplesmente deixam de puxa-la também?

Elas deveriam?

Nesses casos, o sentimento de frustração é legitimo, pensando a partir da ideia de autonomia?

O que entendemos por projetos ou iniciativas que estimulam e fortalecem a autonomia? (não é exatamente sobre isso que escrevi, mas é algo interessante a se pensar… =))

Se uma pessoa vai te visitar em sua casa por alguns dias, e te ensina a fazer empadinhas, e durante os dias que está lá, vocês fazem empadinhas juntas todos os dias, e quando ela vai embora, você deixa de fazer empadinhas… é legítimo essa pessoa sentirse frustrada?

Não penso que os proponentes devem deixar de pensar maneiras de envolver outras pessoas, nem deixar de pensar projetos que possam ganhar vida própria nos locais onde acontecem.

Inclusive acho fundamental compartilhar com as pessoas os recursos, experiências e conhecimentos necessários para que prossigam com a iniciativa. Mas não é absurda a possibilidade de o  projeto não ganhar autonomia em relação a quem o propos. Faz parte da autonomia das pessoas simplesmente escolherem não dar continuidade a uma proposta.

Penso sim, que é muito interessante pensar maneiras de compartilhar todo o necessários para sua continuação. Mesmo que isso se dê através de cursos e formações (…para a coordenação de uma assembleia por exemplo). E mais que isso, pensar iniciativas sedutoras e boas, que façam sentido e que as pessoas envolvidas desejem continuar. E através disso tudo, estimular sua permanência.

… mas nada garante…

De qualquer forma, acredito que, de tudo que fazemos e compartilhamos, algo fica.

… e se o que você queria fazer era compartilhar alguma ideia legal ou algum sentimento bom quando você puxou aquela mostra de cinema ou aquele treino de capoeira, eu acredito que de alguma maneira, deu certo. É muito interessante experimentarmos nossas idéias e desejos sempre… e na medida em que vão acontecendo, irmos aprimorando, como ilustra o dito popular, que é “quando a carroça anda que as melancias se ajeitam”.

Mas se as demais pessoas não continuaram sozinhas sua proposta, fazer o quê?… Elas não tem obrigação nenhuma! É perverso legitmar o sentimento de frustração, porque é ver as outras pessoas “de cima”, como se você soubesse, e não elas próprias, o que deveriam fazer e em que deveriam dedicar suas energias.

Então acho bom largarmos disso e continuarmos fazendo e cultivando as coisas que queremos, respeitando a autonomia dos outros de escolher o que vão fazer ou não!