Existe alternativa Politica!

Algumas pessoas dizem que o que se passa em Venezuela não é uma crise, porque uma crise é uma situação excepcional, que passamos por ela e depois regressamos a normalidade. E que Venezuela passa por um momento de transformação que levara a um outro lugar. Que é um momento de mudança.

Venezuela vive uma situação de escassez de muitos recursos, incluindo alimentos básicos. Isso se da, dentre outras questões, pela baixa dos preços do petróleo e pela grande dependência de importações para o abastecimento o pais.

A principal esperança do governo venezuelano parece ser de que os preços do petróleo voltem a subir para o país sair da situação de escasses.

Já no Brasil, onde acaba de se passar uma descarada manipulação das regras da democracia por parte de setores poderosos do país, se aceleram ainda mais ataques aos direitos da população e se cria um clima de pessimismo entre críticos e movimentos sociais.

Esperar soluções em níveis de governos, num contexto tão complexo, parece ser o mesmo que esperar que o preço do petróleo suba, ou que o governo simplesmente mude de atitude. É nos manter numa posição de dependência e vulnerabilidade. Sigue leyendo

Raúl Zibechi – Uma sugestão de Leitura

Muitas vezes me faço o questionamento de se as teorias e criticas de movimentos sociais dialogam bem com as realidades de periferias e favelas. Faço esse questionamento baseado nas vivencias que tive morando e me relacionando com ocupações urbanas de luta por moradia no Brasil.

Me parecia que as criticas e idéias não conseguiam acessar muito bem a periferia, para pensar sobre ela. Assim como a periferia também não conseguia desenvolver idéias suficientemente acadêmicas, como as que muitos movimentos sociais lidam.

Isso foi assunto entre eu e alguns amigos e amigas durante um bom tempo.

… bueno…

… a pouco tempo passou por aqui, na Cecosesola, um militante pensador dos movimentos sociais da America Latina, cuja leitura de seus textos tem me ajudado a pensar essa problemática. Um uruguaio chamado Raúl Zibechi.

Suas pesquisas passam principalmente por movimentos sociais autônomos e autonomistas.

Eu seu livro “Descolonizar o Pensamento Critico Y Las Rebeldias” diz que a matriz dos movimentos europeus simplesmente aplicadas a movimentos latinoamericanos seria como aplicar a matriz dos “de cima” aos movimentos dos “de baixo”.

“Por eso, (Fanon) advirtió que no debemos imitar a Europa. Sus ideas y análisis son una puerta de ingreso a un tema que considero central: la organizacion y la militância para cambiar el mundo desde la zona del “no ser”, donde hoy viven los millones de latinomericanos, que necesitan construir um mundo nuevo. En tanto la teoría critica fue labrada en la zona “del ser” no puede ser transplantada mecánicamente a la zona “del no ser”, porque seria repetir el hecho colonial en nobre de la revolución. Hace falta otra cosa, recorrer otros caminos.(…)”

Diz que a genealogia dos movimentos latinoamericanos é outra:

“Em América Latina estamos ante otra genealogia: las rebeliones Tupac Amaru y Tupac Katari, las revoluciones de Zapata y Pancho Villa, la revolución de Haiti, los quilombos y los cimarronaje, son las precursoras de queines hoy lucha por la libertad.”

Seguindo sua analise, é possível fazer paralelos de como as lutas de genealogias diferentes encaram determinados elementos, como o papel da família, a participação das mulheres e etc.

“Ese protagonismo feminino em los levantamentos populares está conectado com su enorme protagonismo en la vida cotidiana ( vida material de Braudel). Las izquierdas tienen dificuldades para ver esse protagonismo diário; y mas aún para considerar que esa actividad es politica.”

O cara faz uma leitura histórica das movimentações, ajudando a entender os caminhos que trilhamos, desde a comuna de Paris, até os dias de hoje. Dessa forma, contextualiza as lutas dos movimentos sociais do mundo e da America latina.

Os movimentos das décadas de 60, 70 e 80, segundo minha compreensão de sua leitura, fecharam seus ciclos, culminando em governos de esquerda ou progressistas. E que a década de 90 tendo como principal referencia o movimento zapatista, inaugura uma nova onda de movimentações.

“Si los movimientos antisistemicos no construyen poderes proprios, seguiremos recorriendo la triste estela que conocemos desde el comienzo de los procesos de liberación nacional: fuerzas revolucionarias que toman el Estado y reproducen la dominación, porque el Estado es una relación colonial-capitalista que no puede ser desmontada desde su interior. El proceso de construir poder propio es el camino para descolonizar las relaciones sociales.”

Bom, fica a dica de leitura ai…

– Dé

La Cooperativa Estiguates, como tierra fértil…

Por Cori

Estiguates es un caserío de los andes venezolanos.  En él -muy cerca del páramo- viven alrededor de 70 familias. De esas familias, 14 personas hacen parte de la Cooperativa Estiguates. Cooperativa de productores con más de 20 años de existencia que compone la red de organizaciones que dan vida a Cecosesola.

En esta pequeña cooperativa hay tanto personas jóvenes (menores de 18 años) como personas con más años vividos (mayores de 60 años). Ellas de alguna u otra forma son familia. Juntas producen para la venta  –principalmente-  zanahoria y papa. Productos que venden en las ferias de Cecosesola, en Barquisimeto, estado Lara. Y que producen en sus tierras -de propiedad individual o propiedad colectiva.

En las tierras de propiedad colectiva producen algunas de las personas asociadas de la organización dándole el 50% de las ganancias de la producción a la cooperativa. Ese 50% se destina a los diversos fondos con los que cuenta la cooperativa. De las ganancias de las siembras de propiedad individual también se deja un porcentaje, acordado entre los asociados, para la organización. Así, como se deja otro porcentaje para la caja de ahorro de cada asociado u asociada.estiguates

Los fondos son especies de “vacas” que semana a semana van alimentando para al momento de necesitar dinero poder solventar determinada situación. Existen en esta cooperativa varios fondos, entre ellos: el fondo de salud destinado para cualquier problema de salud que sufra cualquiera de las personas asociadas. El fondo de ensayo, con el cual se proponen cubrir los gastos que pueda generar cualquier experimentación, por ejemplo, con nuevas semillas. El fondo de Macario, Macario es uno de los tres camiones con los que cuenta la cooperativa, él como los otros, tienen sus respectivos fondos para en el caso de necesitar alguna reparación poder contar con (por lo menos parte de) los recursos necesarios para ello… fondo de educación con el cual se pagan los costos de las actividades educativas de la cooperativa, como la participación en las convivencias con las demás organizaciones que componen Cecosesola.

En estos momentos por la situación de Venezuela -cuya inflación anual es superior al 500%- tratan de no tener dinero en estos fondos sino de ir comprando los recursos que necesitan o necesitaran a largo plazo, como repuestos para los carros, semillas, medicamentos…

Cada uno de los fondos como la caja de ahorros es administrado por un compañero o compañera diferente y de forma rotativa.

Lunes a lunes, se reúnen en su casa campesina (espacio para hospedar alrededor de 40 personas) para compartir las diversas informaciones vinculadas al trabajo cooperativo y pensar juntos cómo y por dónde continuar andando. Cada compañero o compañera, por ejemplo, responsable de algún fondo dice que se ha hecho con el dinero, cuánto se tiene, propone y discute junto con el resto de grupo qué hacer ante la situación que en ese momento estén viviendo.

Me ha impresionado y dejado pensando esas diversas “vacas” que de forma transparente van alimentado –algo que no es característico solo de esta cooperativa sino de toda Cecosesola- y las cuales son muestra de una organización que han venido y continúan construyendo y que especialmente en estos tiempos de inflación, escases y desestructuración social parece ser como  tierra fértil de la cual tenemos cierta seguridad continuarán naciendo cosas nuevas…IMG_8100

Fotos de Tere Correa, ¡gracias!

ALGUNS PARALELOS… em uma carta a amigos e amigas…

Por deh…

Amig@s querid@s…
… estamos na Venezuela. Nossa proposta nessa viagem seria pesquisar projetos e processos educativos interessantes na America Latina, além de desenvolver outras pesquisas de nosso interesse. E de compartilhar publicando textos e materiais em nosso blog.

Aqui vai uma tentativa disso. Nesse caso, tentando fazer alguns paralelos com as movimentações autonomistas de BH, das quais eu tive muita proximidade. Acho que esses paralelos podem servir para nos inspirar.

Nesses primeiros meses de viagem, estamos em Barquisimeto, cidade do estado de Lara. Aqui estamos vivenciando a experiência desenvolvida a mais de 50 anos pela Cecosesola (Central Cooperativa de Servicos Sociais de Lara).
Não sei se tenho condição de dizer o que é a Cecosesola. Vou arriscar dizer que é uma rede de cooperativas de diversos setores, como funerária, produção agrícola, feiras de distribuição de produtos e alimentos, que tem como objetivo o desenvolvimento educativo e comunitário.

A rede se articula de maneira descentralizada e não hierárquica, ainda que não exista um padrão definido de atuação. E através da rede, desenvolvem também serviços médicos (inclusive com um hospital construído pela cooperativa), de poupança e credito, um clube cooperativo, com piscina, quadras, dentre outras coisas. Atuam sem nenhum cargo fixo e nem hierarquia, oferecendo serviços com preços muito abaixo aos preços do mercado.

Estamos cooperando na feira do centro da cidade. Existem varias outras feiras também. A do centro é um grande terreno conseguido através da ocupação de um terreno abandonado pelos cooperados e conta com galpões para a feira, um galpão para eventos e reuniões e uma casa onde funciona a escola cooperativa.

As feiras acontecem nas sextas, sábados e domingos. Nesses três dias, todos os cooperados da feira e também de outros setores, se organizam e dedicam-se aos trabalhos de organização e venda de legumes e alimentos. Nos outros dias da semana, dedicam-se aos processos organizativos e de gestão
Na segunda pela manha, fazem o que tem que fazer, como limpar e organizar o espaço da feira e a tarde acontece uma reunião geral, com todos da feira do centro, para discutir como foi o trabalho no final de semana, as relações de trabalho e o que mais surgir. Nesse momento os grupos de cooperados apresentam também seus dados e balanços, como gastos e custos da feira, relações pessoais e etc. Essa é uma reunião principalmente a nível local.

Nas tercas e quartas acontecem reuniões de gestão e compra, onde se encontram membros de todas as feiras da Cecosesola, espalhadas pela cidade. Nela apresentam seus dados e gastos e compras, compartilham questões, pedem apoio e fazem planejamento extrategicos.

Na quinta feira preparam a feira para o final de semana. Paralelamente a isso, os grupos de trabalho atuam, como grupos de limpeza, cozinha, vigilância. Também acontecem atividades como festivais, oficinas, cursos, e etc.

Nas reuniões @s cooperad@s chamam constantemente a atenção em relação a responsabilidades e disciplina em relação aos acordos coletivo. Preocupam-se muito com o caráter educativo de todas atividades desenvolvidas.

Durante a feira existe um sistema de comunicação através de auto-falantes. Com esse sistema, mantem um contato frequente com os frequentadores da feira, tentando fazer todo o processo transparente e aberto. Pessoas que não fazem parte da cooperativa podem participar das reuniões também.

Então, alguns paralelos…

… que talvez valha a pena fazer, no sentido de nos inspirar…

Antes de sair do país, vivi alguns anos na ocupação Guarani Kaiowa. Viviamos ali dilemas de participação dos moradores aos processos de organizacao e assemblearios da comunidade. As assembleias não podiam render muito tempo, porque as pessoas tinham que descansar para trabalhar no outro dia.

Ou as distancias entre pessoas das movimentações sociais e autonomistas, onde cada um trabalha num canto da cidade, e tem dificuldade em se encontrarem e terem proximidade.

Questões como essa são respondidas no caso da Cecosesola.

As pessoas permanecem e atuam ativamente nas reuniões e processos organizativos. Inclusive porque dependem das reuniões o funcionamento das feiras, a redução de perdas e etc. As pessoas não tem que sair delas para trabalharem e ganharem algum dinheiro ou sustento. Na verdade as reuniões fazem parte do trabalho cotidiano. Elas são contadas como dia trabalhado.

As reuniões reúnem as vezes mais de 200 pessoas, e não tem pautas pre definidas, nem tem mesas organizativas, nem inscrições para fala e não fazem votações.

Como tod@s trabalham junt@s, em contato permanente boa parte do dia, tem tempo para se articularem, desenvolverem projetos e serem criativos. Atualmente, Cecosesola começa a desenvolver um programa de radio, além de estarem realizando trocas de experiências com outras cooperativas, festivais de comida e etc.

Enfim, o contato coletivo cotidiano permite varias iniciativas.

No contexto atual…

… da Venezuela, que é um contexto de crise, inclusive com escasses de alimentos, a cooperativa consegue gerar um ambiente um pouco mais seguro para as pessoas próximas. Bom, isso é o que sinto.
Cecosesola mantem uma relação muito próxima com cooperativas de produtores rurais, trazendo comida para as feiras em Barquisimeto. Através de produções cooperativas, geraram uma estrutura que minimiza um pouco as dificuldades da crise. No caso da escassez de alimentos, as cooperativas de produtores rurais estão desenvolvendo esforços para reprodução de sementes e fortalecimento da agricultura.

Por outro lado, tem surgido propostas de pesquisa e busca de alternativas aos alimentos que estão escassos.

A proximidade entre companheir@s da cooperativa e comunidade gera um ambiente de apoio muito importante e interessante. Esse tipo de relação é um assunto que circula muito entre autonomistas, e pessoas com as quais sou próximo em Belo Horizonte. Por isso, penso que a experiência daqui traz materiais muito interessantes para pensar.

Sempre pensei que num contexto de crise social a população se °viraria°, no sentido de dar conta da situação. Que plantaria e daria conta, a partir de baixo, da situação de crise. Aqui na Venezuela, por suas características locais, históricas e politicas, as coisas não caminharam bem assim. A população nao reage bem a escassez de alimentos, e se mantem muito dependente do governo.

Por isso, sob o ponto de vista autonomista, a importância de se ter conhecimento em plantio, medicina natural e agricultura, além de desenvolver projetos, experiencias e praticas coletivas nesse sentido.

Bom…
… fica ai uma tentantiva de compartilhamento… tomara que sirva de material de inspiração e de intercâmbio…

¿Qué es educación? ¿Qué es ser educadora, educador?

Por Cori.

Nos hemos propuesto en este blog ir compartiendo, pensando juntos, en relación a las experiencias educativas que en el camino nos vamos encontrando.

La pregunta evidente –para mí- es: ¿Qué entendemos por educativo? ¿Qué es educación?

Si vamos a la etimología de la palabra educación en el Diccionario etimológico de la lengua portuguesa encontramos:

Educação: do latín educatione, << ato de criar animais, plantas; educação, instrução, formação do espíritu>>, id.; educador, do latin educatore << o que cria, educador, formador>>

Educar: viene do latín educare <<criar, alimentar, ter cuidados com; formar, instruir; producir>>

Eduzir: Viene do latin. Educere, << fazer sair, expulsar, pôr fora; citar em justiça; conduzir alguém (para a sua província); mandar a sair tropas; tirar do seio da mãe; dar à luz; fazer brotar; educar uma criança; beber; engolir; levantar ao ar; passar o tempo>>

Si bien puede que la última palabra no la asociemos directamente a la idea de educación, autores como Jan Masschelein y Maarten Simons en su libro Em defesa da escola: uma questão pública (2013) nos invitan a pensar la educación a partir de esa palabra “eduzir”, como un traer hacia fuera.

Con todo lo que me pregunto es… cuando pensamos en educación ¿en qué estamos pensando? ¿En el acto de criar animales o plantas? ¿En la formación del espíritu? ¿En alimentar a alguien? ¿En tener cuidados en relación alguien? ¿En formar o instruir a alguien? ¿En producir algo? ¿En hacer salir, expulsar, colocar para fuera de nosotros algo? ¿En llamar a la justicia? ¿En dirigir a alguien hacia su provincia? ¿En mandar a salir las tropas? ¿En tirar a alguien del seno de su mamá? ¿En dar a luz? ¿En hacer brotar? ¿En beber, tragar? ¿Levantar al aire a alguien? ¿Pasar el tiempo?

…Por ejemplo, cuando decimos “esa es una persona bien educada” ¿a qué nos estamos refiriendo? O cuando decimos “yo soy educadora o educador” ¿qué estamos diciendo? ¿Por qué o qué nos hace ser educadoras y educadores? O como decía, en un inicio, ¿Qué pensamos cuando decimos experiencias educativas?

Esas preguntas me llevan a colocar mi atención a los sentidos que le doy y les dan las personas y organizaciones que nos vamos encontrando en el camino con su vida a la palabra educación.

Referencias:

MACHADO, José; Diccionario etimológico de la lengua portuguesa. Porto: Confluencia, 1952.

MASSCHELEIN, Jan; SIMONS, Maarten. Em defesa da Escola: uma questão pública; Tradução Cristina Antunes. Belo Horizonte: Autêntica, 2013.

Primeiro post desde a Venezuela

Por Dé

 

(Tenha paciência. Esta faltando uma letra no teclado do nosso pc.)

Estamos na Venezuela já a duas semanas e pela primeira vez em minha vida, saio do meu pais.

Estou tentando desenvolver meu espanhol, minhas pesquisas e me sentir mais seguro.

A estadia aqui esta sendo muito surpreendente. Me parece um pais com um forte movimento e consciência esquerdista. Tudo no *achismo*, afinal estou aqui a pouco tempo. De qualquer forma, acredito que os movimentos sociais brasileiros tem muito a aprender com as experiencias daqui.

Um pais que se posicionou de maneira muito forte contra o capitalismo mundial, mas que, por vários motivos, agora passa por uma grande crise. A escassez de alimentos e recursos aqui esta séria, levando o pais a beira do caos. Tivemos contato com pessoas de opiniões as mais diversas sobre a situação, que é critica.

Passamos por Caracas e agora estamos em Barquisimeto. Aqui estamos trabalhando na CECOSESOLA, que tem me parecido ser uma linda experiencia de cooperativa de trabalhadores. Se não me engano, são mais de 1500 associados que tocam um projetos de plantios, feiras de alimentos, funerária, hospital e etc. Sem nenhuma hierarquia.

A reunião que ate agora participei parecia muito as reuniões da SOMAIE, terapia anarquista que se desenvolve no Brasil. Só que com umas 200 pessoas participando.

A cooperativa vive já com receios e ameaças de saqueio de seus depósitos. Em outros mercados aconteceram em outras feiras do pais.

A galera que se interessa por economia solidaria e organização de feiras, com a Feira do Espaço Comum Luis Estrela e a feira da Casa da Lagartixa Preta, fica a dica para pesquisar essa experiencia. É impressionante e inspiradora mesmo.

Nossa proposta é de seguir trabalhando na cooperativa enquanto estivermos aqui. Para termos a vivencia, aprendermos um pouco com a galera, e levantar uma grana pra vivermos aqui também.

Seguindo a proposta de nosso role (e tentando evitar a sedutora neurose coletiva pela situação do pais), pretendemos pesquisar projetos educativos mundo afora, e também desenvolver outras trocas mundo afora, fica também a dica de pesquisar os seguintes pratos da comida Venezuela:

  • Cachapa – é como um chapate de milho triturado, com queijo. Veganos e veganas podem substituir por outros recheios.
  • Golfeado – que é um pao delicioso com rapadura.

São maravilhosos os pratos.

Vamo que vamo! Vou tentar manter a escrita e a publicação para compartilhar um pouco da viagem com quem se interessar!

Bjos!

Sobre salvar um Homem

Por Dé

Tenho tido proximidade com o caso de um amigo que me causou muita tristeza. Meu vizinho, uma figura da qual tenho muita admiração pela maneira de viver, pela energia, pela história de vida e pela influência positiva que tem em vários setores da comunidade.

Figura que num momento de crise financeira, decidi abrir um bar em sua casa.

Desde o primeiro dia em que o conheci, até poucos dias, nunca havia o visto consumindo bebidas alcoólicas. Na juventude foi alcoólatra, fez uso e foi viciado também em crack, e teve muita dificuldade para abandonar esses vícios.

No cotidiano de seu bar, muito movimentado por amigos, caiu descontroladamente no consumo de álcool e outras drogas.

O que me motiva a escreve sobre isso são os dilemas que me surgem e a relação que tenho estabelecido com a complexa situação de meu amigo.

Meu principal dilema passa pela sensação de que deveria fazer algo a favor dele, e questionar a cultura do alcoolismo e do abuso de drogas. Mesmo tendo a sensação de ser um problema grande demais para que poucas pessoas consigam fazer algo significativo.

Em poucos dias o homem perdeu peso, se envolveu em problemas e pôs a própria vida e a de outras pessoas em risco.

Em momentos de sobriedade, conversamos e demos conselhos, como o de fechar o bar e sair por algum tempo da comunidade, até conseguir se fortalecer um pouco.

Oferecemos comida, porque já não comia a dias.

Mas o que mais fazer, quando seu bar vive lotado de outros usuários usuários, trazendo mais drogas o tempo todo e ainda roubando, quando possível? O que é possível fazer quando se está envolto numa cultura que da suporte a essa situação?

Tenho pensado que o que podemos fazer é abrir mão da ideia de que vamos salvar alguem, e continuar resistindo com nossas pequenas ações. Não deixar que a situação nos tire de nossos caminhos e de nossa centralidade. Não cair na armadilha de falar desse “atraente assunto” o tempo inteiro. Parece que gostamos falar de tretas permitindo que isso sugue e mude nossa energia o tempo inteiro.

Continuar fazendo o que fazemos todo o tempo. Fortalecendo as assembleias, publicando os jornais, limpando nossas ruas, fazendo atividades de vez em quando, brincadeiras com as crianças, mantendo nossos lotes limpos e organizados, cuidando e castrando nossos gatinhos, fazendo nossa horta, mantendo nossos corpos saudáveis e os treinos de capoeira, estudando nossos assuntos preferidos, convivendo bem com a vizinhança, etc… e uma coisa de cada vez e sem perder o senso crítico.

Essa parece ser nossa parte numa possível mudança.

Não adianta pensar que salvaremos esse ou aquele homem, ou que transformaremos toda uma cultura da noite para o dia. Mesmo tão envolvido sentimentalmente, é importante evitar sermos afogados pelos problemas ao nosso redor.

Façamos o que nossas pernas aguentam, e estejamos atentos para evitar contribuir com a continuidade das questões que queremos superar.

 

Sobre Salvar o Mundo – Um assunto de mesa de um bar

Por Dé

Certa noite me vejo sentado na mesa de um bar com amigos e amigas que a muito não encontrava. E nas conversas emergiu um assunto que muito me atravessa.

Um amigo falava sobre sua vida, suas ideias e questões que o tem assolado. Assuntos desde cooperativas de trabalho, política pessoal, local, nacional, internacional e intergaláctica; relações e desejos de engajamento pessoal, preocupações com outras pessoas, questão de moradia, saúde e etc.

Acredito que todos nós somos, de certa forma, atravessados por assuntos parecidos.

Mas o que me chamou a atenção foi que ele me pareceu sentir-se muito responsável por todas as soluções. Carregava as palavras com o peso dessa responsabilidade. Parecia cansado e desgastado com todo o assunto.

Eu me sentia cada vez mais pesado sobre aquela cadeira de bar.

Também me sinto responsabilizado assim. Querendo abraçar o mundo com os braços, aceitando cada questão que atravessa meu caminho como sendo minha. Assim, desprotegendo as construções que dificilmente tenho tecido, permitindo que sejam prejudicadas, por falta de auto controle. Abrindo mão da minha saúde física e mental, das amizades e dos interesses pessoais.

Mirando enormes questões globais sem resolver as pessoais. Fazendo contatos com distantes lutas, mas com as relações com vizinhos enfraquecidas.

Falo a partir da vivência morando em uma comunidade financeiramente pobre, carente de vários recursos e direitos, convivendo com violências de cunho social, político, violência doméstica, de gênero, promovida pela polícia, por homens, adultos, pelo crime e pelos vícios em drogas.

Essa reflexão é próxima as da capoeira de Angola. A Angola é uma capoeira «miúdinha», jogada muitas vezes encolhidinho, bem próximos ao chão e do outro jogador, no chamado «Jogo de Dentro».

O mestre com que temos treinado, em vários momentos, chama a atenção para a não necessidade de se ter muito espaço, mas para a importância de ocupar bem os espaços que temos. Também fala muito sobre estarmos sempre próximos do outro jogador, e que o ataque na capoeira de angola parte sempre da ocupação do espaço do inimigo e da auto defesa. Que o importante é estar sempre treinando, nos movendo dentro das técnicas e regras do jogo, e desenvolvendo nossa atenção e criatividade.

Nessa mesa de bar, demos exemplos de brigas de casais e vizinhos, da guerra entre policia e do tráfico. Dissemos que, na maioria das vezes, acreditamos que nos manter saudáveis, centrados, nos alimentando bem, com nossas casas organizadas, com boas relações entre amigos e vizinhos, brincando com as crianças de vez em quando, estudando nossas questões e  interesses, dando exemplos diferentes dos da cultura da violência, sem abrir mão da sinceridade, trabalhando para instituir, proteger e fortalecer  os espaços comunitários, legitimando a assembleia da ocupação, estimulando encontros, almoços e lanches comunitários, fazendo os jornalzinhos da comunidade, estando sempre atentos, seria nossa melhor contribuição contra a violência de nossa comunidade.

Uma coisa de cada vez, sem pressa, sempre a partir dos nossos desejos e sem perder o senso crítico..

E que tudo pode também ser pesado, se não conseguirmos manter a calma, a saúde e a alegria.

Não adianta arrancar cabelos, desregulados e aflitos com as questões que nos surgem. O mundo e a TimeLine de FaceBook estão cheios de questões, o tempo inteiro.             Entender isso não é motivo nenhum para desanimar.

Quando tentamos fazer tudo ao mesmo tempo, me parece que acabamos fazendo nada.

Na conversar quis dizer que sentia que meu amigo deveria se cuidar mais e tentar se manter mais tranquilo. Que se quisermos fazer alguma coisa, é primordial nos manter vivos, mas que mesmo assim, nunca conseguiremos abraçar o mundo.